O papel do Educador na creche


Finalmente ficou pronto o primeiro artigo do Sítio!
Hoje é dia de refletir no papel do educador na valência de creche e para isso contamos hoje com a participação especial da educadora Neuza Dias.

Aqui fica a minha opinião sobre o tema.
«Receber pela primeira vez um grupo de bebés tem tanto de desafiante como de assustador. A partir desse momento passamos a fazer parte do desenvolvimento global dessas crianças.
Se houvesse metas de aprendizagem pensadas para a creche, eu diria que elas se dividiam em três categorias principais: a autonomia, a segurança e a curiosidade. Estes são os passos-chave que hão- de preparar aqueles bebés para o resto das suas vidas.

Nós educadores, seremos o fio condutor neste crescimento, nós, estaremos lá para os ver andar pela primeira vez em direção ao mundo todo… assistimos ao primeiro dente que lhes irá fazer descobrir uma imensidão de sabores, texturas e paladares… estaremos lá para os embalar na hora de dormir, sem poderem ter o colo da mãe, oferecemos segurança num local (ainda) desconhecido e preparamo-los para uma exploração verdadeiramente incrível, que provoca neles uma sede de descobrir mais e mais.

Transformamos os nossos bebés em crianças autónomas, seguras e curiosas, prontas para seguir outros caminhos, confiantes nas «marcas» que deixámos neles… mesmo que esqueçam o nosso nome, o nosso rosto, não esquecerão a sua autonomia e avançarão mais e mais a cada novo ano letivo.
O maior reconhecimento do nosso trabalho está aqui, no que os nossos bebés serão daqui a muitos anos.
Eu acredito que os caminhos marcam mais que os destinos, só assim, trabalhar em creche continua a fazer todo o sentido, mesmo quando o ministério da educação não reconhece o nosso empenho, mesmo que a nossa dedicação conte zero no tempo de serviço…para mim continua a valer a pena ajudar os meus bebés 
a serem crianças mais autónomas, seguras e confiantes!» Ed. Milena Branco

Para me ajudar a refletir sobre este tema convidei a colega Neuza Dias, que hoje será a nossa educadora cooperante!

Neuza Dias
Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich
Administradora do blog Reino Encantado das Almofadas

«Desde que me formei, que tenho trabalhado sempre em Creche. 5 anos em creche  e  7 grupos depois já são muitas as opiniões formadas acerca da profissão que escolhi, acerca desta vida que levamos, que exige tanto de nós fisicamente, mas principalmente psicologicamente. 
Nunca fui pessoa de achar que em creche não se trabalhava. Desde o inicio do curso e dos estágios, em que a observação era tão importante, que percebi que em creche se trabalha e muito. No entanto, eu mesma, em criança, não frequentei a creche. A minha creche foi a rua. A minha infância foi passada a brincar na rua, a subir às árvores, a perseguir gatos, a esfolar joelhos no chão. Reconheço e acho fundamental o papel do Educador em creche, mas não posso deixar de me perguntar, se as nossas crianças não são demasiado protegidas. 
Acredito realmente que temos um papel fundamental e muito diferente do papel dos pais na educação das crianças. Somos nós que lhes colocamos desafios, somos nós que lhes ensinamos os afectos, somos nós que passamos com eles a maior parte dos seus dias. Se não somos segundos pais, então não sei o que somos! No entanto, acho que super protegemos as nossas crianças. Como educadora, gosto de os desafiar, de não lhes facilitar a vida, de os colocar em situações que os obriguem a superar-se, mas principalmente de desafiar as convenções da nossa sociedade. Em coisas tão simples como brincar à chuva por exemplo. Ai de quem o faça, correndo o risco que as crianças fiquem doentes… coisa muito muito portuguesa. =)

Vejam aqui a aventura de brincar à chuva!



São estas as minhas prioridade no trabalho em creche. A exploração, a brincadeira, e os afectos.

Vejam aqui o melhor dos abraços!



  Em berçário, por exemplo, em que não há uma resposta verbal da parte dos bebes aquilo que lhes propomos, é extremamente importante que estejamos atentos às suas reações. Afinal de contas os estímulos sensoriais são o mais importante no berçário, e com este estímulo sensorial, vem uma panóplia de emoções agregadas! (Vejam aqui um exemplo de exploração sensorial em creche)
A brincar com o ouriço, a explorar os seus sentidos
Registo da exploração do ouriço, pintura da castanha



Quanto aos meios de trabalho... são sem dúvida extremamente importantes. Sim, também é verdade que com pouco fazemos muito, mas não se fazem milagres, e muitas vezes é do nosso bolso que sai o dinheiro para comprar materiais para as crianças trabalharem! No trabalho em creche, dou por exemplo muito valor às expressões. Considero que uma educação focada nas artes, proporciona às crianças mais e melhores ferramentas para lidarem com o mundo que as rodeia. Certamente que serão crianças mais criativas, e isto, por si só fará com que lidem melhor com qualquer problema que lhes surja!

Contato com a arte

Pintura coletiva


A 3ª e última pergunta que me foi colocada é talvez a mais pertinente. Se não vejamos: “O que mais gosta e o que mais lamenta no trabalho em creche?”. Ao fim de tantos anos seguidos em creche, e de já ter passado por todas as suas etapas, posso com certeza dizer, que o que mais gosto do trabalho em creche, é do ritmo. Calmo. Sinto que em creche se respeita mais os ritmos de cada criança, que se tem mais em conta as suas necessidades individuais. Ao passo que em Jardim de Infância, uma vez que existem metas, acaba por se perder um bocado este respeito. A preocupação por cumprir os planeamentos, por trabalhar os conteúdos das Orientações Curriculares, é tanta, que o ritmo acelera, e é sempre a correr, sempre a trabalhar, sem que por vezes haja tempo para o essencial. Brincar. 

Sei que talvez irão ler isto e pensar, que eu estou doida, que não entendo nada disto para estar a falar. Posso não ter muita experiência prática em Jardim de Infância, mas se há coisa que tenho, é uma boa capacidade de observação. E por isso digo, pensem lá bem… não haverá vezes em que gostariam de abrandar, parar, brincar com as crianças? Sem dúvida que sim… até eu que considero que brinco imenso com elas, gostaria de brincar mais. E é esta  A vantagem da creche. Aquilo que tantas vezes se desvaloriza, o brincar, tem aqui um papel tão essencial, tão fundamental quanto o respirar. E na creche, brinca-se muito!
O que mais lamento no trabalho em creche? Duas coisas que considero muito importantes. A primeira é que muitas colegas ainda olhem para a creche com maus olhos. Quando tirei o meu curso, tirei para ser Educadora, de creche e de Jardim de Infância. Quando oiço colegas dizerem que não gostam da creche, até me arrepio toda. Como é possível que se consiga evoluir enquanto profissional, mas também como individuo, se não nos colocamos à prova? Se não sairmos da nossa zona de conforto, vamos estagnar, o nosso trabalho perde o interesse, e quem paga são as crianças. E por isso para mim, devia ser obrigatória a rotatividade entre Educadores, para que todos passassem por todas as idades, e para que todos evoluíssemos. Obviamente que com isto, vem a segunda coisa que mais lamento em creche. A contagem do tempo de serviço. Já tanto foi dito sobre o assunto, que nem vale a pena alongar-me muito mais. Trabalha-se tanto, mas tanto em creche. Acho que já ninguém tem dúvidas sobre a importância do Educador nesta valência, restava apenas que os nossos governantes assim o entendessem.» Ed. Neuza Dias

Visitem o blog da colega Neuza dias, Mundo Encantado das Almofadas e vejam aqui um pouco mais sobre este assunto.

Quanto a nós, Sítio da Educação, resta-nos agradecer a disponibilidade da colega para connosco «pensar» sobre esta temática fundamental na nossa prática educativa.
Outros temas virão e outra/os colegas serão nossos convidados para dar a SUA opinião.

Até breve e boas partilhas!