Em busca de inspirações pedagógicas

A cada dia de trabalho procuro inspirações. Onde?
Em quem?
Neles, nas crianças que caminham a meu lado a cada dia.
Levo comigo outros focos de inspiração, correntes pedagógicas, modelos de escolas com que me identifico... procuro a cada dia uma prática que nos conduza (a mim e ao meu grupo de crianças) a uma educação mais holística, centrada na criança preparando-a para a vida.
Descobri ainda na minha formação base o Movimento da Escola Moderna, criado pelo grande pedagogo, o professor Sérgio Niza.

Encantei-me pelos seus princípios orientadores e pela forma como respeita e promove a criança.

«Importa assim reafirmar que o MEM se “assume como movimento social de desenvolvimento humano e de mudança pedagógica” (Niza,2009,p.348). Entendendo a democracia como a matriz de organização e vivência humana comprometida com os direitos do homem e da criança, o modelo orienta-se para três finalidades:

  • iniciação às práticas democráticas, reinstituição dos valores e das significações sociais e reconstrução cooperada da cultura que reivindicam para a escola a vivência democrática e a atividade cultural autêntica (Niza,1996) O modelo assenta, assim, numa organização social fundada na cooperação, no diálogo e na negociação,capaz de instituir uma cultura democrática.  A compreensão do processo de aprendizagem no MEM radica, como foi referido, nas perspectivas teóricas socioculturais desenvolvidas apartir do trabalho de Vygotsky.. Nesta linha teórica, compreendem os processos de educação como um processo de humanização onde, através da interação com os outros em atividades culturais, nos apropriamos da herança cultural e dos seus instrumentos,contribuindo para novas criações»  de, Maria Assunção Folque e Maria Bettencourt e Mónica Ricardo, em A prática educativa na creche e o modelo pedagógico do MEM 
 imagem retirada do link

Ao longo da minha prática fui desbravando outros terrenos cujas linhas orientadoras me indicavam outras necessidades além da abordagem democrática e da cooperação social e cultural. Descobri  a abordagem educativa proposta pelas escola de Reggio Emillia na Itália. 
Procurei formação, leitura, documentários e claro a tentativa de formação no seio de Reggio Emilia que em breve irei realizar.
Mas afinal que inspirações nos trazem as escolas Reggio? Como se criaram essas escolas?

Logo depois da segunda guerra mundial a Itália estava devastada e praticamente destruída. O jovem professor Loris Malaguzi uniu-se à população da cidade de Reggio Emilia e sonharam construir uma escola para crianças pequenas. Munido de toda uma comunidade Malaguzi criou em  Reggio Emilia  uma escola em contínua mudança, que se propõe a repensar-se e reconstruir-se constantemente; que considera fundamental a interação entre sistema de escolarização e o mundo da família, de modo integrado e participativo; que ressalta a centralidade da criança no processo educativo, mas também a integração com os professores e as famílias. Por natureza, é uma escola inovadora, na qual criança, professor e família se relacionam de modo integrado e coletivo. Texto retirado do link

Esse envolvimento da comunidade fascinou-me. Essa leitura global da criança, da sua essencia social, familiar, comunitária apaixonou-me.
Tenho procurado envolver mais na minha prática essa comunidade, tanto dentro como fora da escola.
fascina-me a Imagem da criança e pedagogia da escuta
«Todas as decisões pedagógicas estão atreladas à interpretação do educador sobre o que a criança deseja, o que ela faz, o que ela consegue produzir, suas possibilidades, suas teorias. Se a escolha
que o educador faz tem a ver com esses elementos, consequentemente, não é possível fazê-la à revelia da criança. Por isso, uma das ações educativas mais importantes para essa abordagem é
a escuta, é o olhar cuidadoso sobre a criança
Fascina-me igualmente a Documentação pedagógica que nasce da observação e do registo dessa escuta. Esta documentação pode apresentar-se em diversos suportes, como cartazes, folhetos, noticias de jornal ou outros que promovam a comunicação entre a escola e a comunidade. 
E claro a forma como pensam e organizam os espaços e recursos das salas. Espaços amplos, espaços de leitura e investigação, espaços para criar usando materiais diversificados e também a forma como a sala se expande para lá das paredes físicas, dando continuidade jardim fora...
Estou na fase em que me considero inspirada por Reggio.

Assim achei que faria sentido partilhar convosco um texto escrito por Carla Rinaldi, no seu livro «Diálogos com Reggio Emilia», para que vos possa inspirar também! Isto  porque ser reggio inspirado está na moda, mas é necessário estudar, investigar, colocar nas nossas práticas a essência dessas correntes e não apenas fragmentos isolados...

«Há muitas escolas, que são de alguma forma inspiradas na abordagem reggio. Talvez tenham colocado uma caixa de luz, ou atirou todo o plástico e o substituíram com materiais naturais, ou talvez façam o reggio numa sexta-feira.

Mas isto não é suficiente.

Ser "Reggio-inspirada" significa muito mais do que isto. Começa e termina com uma imagem forte da criança, e um sonho utópico para ver mudanças na sociedade em que vivem.

Por esta razão, todos os professores que dizem que são reggio-Inspirados, devem também ser um defensor da criança e um empresário social nas suas escolas.

Não se trata simplesmente de deixar as crianças brincar com o clay ou tirar fotos do seu trabalho.

Se dizes que és o reggio inspirado, estás à espera da criança. Fica com a criança, que já está de pé. Você defende todos os dias, com todos os pais que conversam, todos os professores que encontrar, por uma nova maneira de ver a criança já inteira, completa, competente, engenhosa, perfeita como eles são.

Você trabalha todos os dias, de dentro do sistema em que está, para inspirar a transformação, e para criar mudanças nas escolas, que são microcosmos de uma sociedade que queremos viver.

" Reggio fala com aqueles de nós que há muito tempo por outra coisa, outro pertence, dá conforto e esperança ao ser diferente, mostrando a possibilidade de diferentes valores, relações diferentes, diferentes formas de vida. Reggio oferece um sentimento de pertença a pessoas que anseiam pelos valores, relações e formas de vida dos outros.

Reggio Emilia é um local que está envolvido tanto em pensamento utópico como ação através de um processo que pode ser chamado de um projeto cultural local de infância. Mas este projecto cultural local dispersou geograficamente e se tornou uma rede global - construiu uma nova geografia cultural. Esta rede está a abrir caminho à possibilidade de explorar novos modos de possibilidade humana. " "

Precisamos de mais somado, não no sentido de reggio clones, mas de outras comunidades que estão preparadas para embarcar em projetos culturais locais de infância, para combinar pensamento e ação utópico, sonhar com o futuro, esperar por um mundo melhor." texto partilhado na página Small World School, na rede social FB