Balanço final: A construção da agenda semanal




Por volta do mês de Novembro começa a surgir a necessidade de organizar os nossos dias, num planeamento que envolve o grupo. Surge também pela necessidade demonstrada pelo grupo de antever os acontecimentos do seu dia e a sucessão dessas atividades ao longo da semana. A minha angústia cresce com este diagnóstico e inicia um longo processo de preparação e de reflexão sobre o tempo, o seu planeamento e a sua gestão cooperada com o grupo. Procurei ajuda e inscrevi-me na oficina de creche do Movimento da escola Moderna e este processo cooperado de crescimento e reflexão foi determinante para chegar a bom porto com esta inquietação. As discussões e partilhas foram determinantes para dar o passo final e não podia estar mais orgulhosa do resultado final.
Vou partilhar convosco esta caminhada que iniciei solitária e todo o percurso cooperado e reflectido dentro da oficina:
(Notas pessoais , 8/11/17, aquando da reflexão inicial sobre as finalidades educativas de cada um dos meus tempos)

«Refletir sobre o tempo:
Quais os nomes dos meus tempos?
Acolhimento /Explorar, descobrir e brincar/ recreio/ higiene/ almoço/ sesta/ higiene/ lanche/ brincar/acolhimento.
Qual a intencionalidade educativa, o que pretendo em cada tempo?
Acolhimento: que se sintam acolhidos, seguros. Que organizem o seu dia segundo os seus interesses. Que tenham espaço e atenção do adulto neste tempo sem descuidar do tempo e espaço dos que desejam brincar e explorar a sala.
Explorar, descobrir e brincar: que encontrem a cada dia novos recursos, novas propostas e técnicas que possam ao seu ritmo explorar. Que agucem a sua curiosidade e ímpeto exploratório.
Recreio: Que explorem o espaço exterior, dentro e fora da creche. Que se sintam seguros para novas explorações físico-motoras, sociais e cognitivas.
Higiene:  Que sejam progressivamente mais autónomos nas suas rotinas de higiene e cuidados básicos consigo e com os materiais da sala.
Almoço/lanche: Que aceitem provar novos alimentos. Que a sua alimentação seja equilibrada e variada. Que a sua autonomia cresça tal como a destreza com que usam os diferentes talheres (colher e garfo) e recipientes (copo, caneca, prato). Que procurem sentir-se limpos e confortáveis fazendo uso do guardanapo.
Sesta: Que se sintam segura para adormecer sem a presença direta do adulto. Que descansem e reponham as forças e energias necessárias à exploração, descoberta e vivência na creche.» MB

A pesquisa e reflexão continuaram e traçei o retrato destes dias e das atividades que iam acontecendo, tomando nota dos tempos, dos nomes que lhes dava (e essa foi uma grande dificuldade…), a sua sequência e os recursos usados.
Não consegui até aos últimos encontros da oficina avançar com a elaboração da agenda semanal. No entanto depois de refletir sobre este ponto iniciou a aventura!
Levei a proposta ao grupo e combinámos fotografar e registar os nossos dias e a sequência de atividades e rotinas. O decorrer deste exercício como grupo mostrou como eles conhecem as atividades que fazem a cada dia (mesmo que não de forma rigorosa) e isso deu-me segurança para diariamente preencher a agenda.
Houve até um episódio que vou partilhar convosco. No primeiro dia uma das crianças ao ver a mãe chegar chamou-a e explicou que papel era aquele na parede! Não havia volta a dar eles precisam deste instrumento e ele é significativo para eles!
Os nossos tempos ganharam novos nomes...
2 feira Manhã: *Explorar, descobrir e brincar * Música e dança (Aula de bébéarte)
Tarde: *Recreio
3 Feira Manhã:*Explorar, descobrir e brincar *Experiências 
Tarde: *Recreio
4 Feira Manhã: *Explorar, descobrir e brincar *Projetos e atividades *Visitas e passeios
Tarde: *Cestas de Histórias *Recreio
5 Feira: Manhã: *Explorar, descobrir e brincar * Ginástica
 Tarde: *Recreio
A importância do nome dos tempos: É importante dar a cada tempo a designação que indique concretamente aquilo que se está a trabalhar. Desta forma garantimos ao grupo que abordamos todos os domínios de desenvolvimento cognitivo, linguagem e comunicação, pensamento e produção artística, autonomias e desenvolvimento motor. Embora a abordagens a estes domínios não se faça em separado, mas sim de forma transversal e em paralelo. Nesta agenda o que conta é a intencionalidade educativa e não o produto final das vivências. 
São os processos de exploração/descoberta/amplificação da curiosidade/autonomia e a resposta aos focos de interesse que mais importa proteger.
Foi para mim o maior ganho em termos de reflexão a aplicação na prática das reflexões e aprendizagens cooperadas, sumo da frequência desta oficina, estando grata pelo contributo das formadoras e das partilhas das colegas.
No final do mês de Maio a agenda ficou finalizada e todos a sabiam ler e aplicar. Reconheciam a sequência temporal dos dias e das atividades que se esperavam a cada dia.
 As atividades eram sempre diferenciadas, mas a estratégia era igual, ou seja, em dia de «experiências», havia oportunidade  e tempo para explorar coisas diferentes, seja na área artística, ou nas ciências... o grupo já esperava algo diferente!


No dia da música e da dança todos esperávamos as aulas do Bebéarte, ou outra atividade ligada à musica e à dança!

 No dia de projetos e atividades, dávamos seguimento a ideias e focos de interesse que havíamos acordado explorar, independentemente da área ou domínio a que se poderia referir, afinal em educação de infância tudo se faz de forma transversal!
Guardávamos sempre um dia e um tempo para dedicar ás histórias, porque gostamos de as ouvir, de as viver, de as fazer sair dos livros!! As histórias eram diferentes tal como eram os recursos utilizados! Mas esse era o dia em que todos chegava a perguntar qual seria a história!

 O último dia da semana era dedicado ao exercício (não que o movimento não fosse explorado em todos os outros dias, mas neste era especial). Era o dia da ginástica!
E esses exercícios podiam ser feitos na sala, no recreio, no parque público, ou noutro qualquer!
Aqui o importante é saber que todos vinham preparados para ginasticar!
Assim alcançámos o objeto principal com este mapa de regulação da vida do grupo, a agenda serviu para viver e entender a sequência temporal dos dias da semana e das atividades que o grupo mais desejava explorar. Esta foi a agenda que nos serviu este ano letivo, no próximo logo veremos como ela será.
Mas de uma coisa tenho a certeza ela existirá!