Os caminhos da nossa projeção

Nos últimos dias depois de partilhar um pouco da nossa projeção, recebemos algumas mensagens sobre como nascem as nossas projeções.
Elas nascem daquilo que vamos observando. Às vezes é uma descoberta isolada, noutras uma curiosidade que investigam ou reparam repetidamente...
Segundo Ostetto (2017) «registar é escrever sobre a prática, tecer memória das experiências, com anotações que serão matéria de análise e de reflexão»
Por estes dias esteve realmente muito frio, as crianças viviam isso, sentiam isso, aqueciam as mãos dos amigos que iam chegando gelados vindos lá de fora.
Este frio veio despertar o interesse das crianças. É uma reação física, emocional, que mexe com o conhecimento e a construção de novos conceitos sobre o mundo.
Aqui estava o foco de interesse do grupo.
Agora era preciso ficar atenta e tomar nota das coisas que as crianças vivenciam em dias de frio...
O corpo sente frio
Os carros ficam congelados
A boca deixa sair um fumo branco quando conversamos na rua...
O corpo fica mais quentinho quando brincamos ao sol...mas fica mais frio quando brincamos na sombra...
O frio deixa as mãos de quem chega da rua geladas...porque o frio vive lá fora Na rua...
Conhecer e investigar as estações do ano é muito mais que imagens de bonecos de neve...
Investigar o frio é senti-lo no seu corpo, mais que conhecer o nome da estação do ano cantada numa canção ou ilustrada num bom livro... ( e tudo isso é importante, mas, por si só, não é suficiente, não dá voz nem VEZ à curiosidade da criança...)
Explorar o frio é reconhecer na natureza a transformação das matérias...
Explorar o frio é reconhecer que ele faz parte do mundo que desejamos desbravar.
«Documentar (estas situações e vivências) é atentar-se daquilo que as crianças fazem no seu dia-a-dia nos nossos espaços, é dar visibilidade ás ações e concepções» que fazem sobre o mundo.
 E como afirma a atelierista Vea Vecchi , é preciso traduzir em linguagem de gente grande, toda a riqueza que as crianças sabem, descobrem e sentem sobre o mundo e os conceitos que vão tecendo sobre esse mundo.
«Existe uma cultura da infância submersa, por isso creio que seja importante, para quem trabalha com crianças, torna-la visível.»(, V, Vecchi, Diálogos com Reggio Emilia, 2005)
Com todos estes elementos em mão era tempo de olhar as anotações e pensar em formas para  AMPLIFICAR as descobertas. Usando cem pensamentos, cem recursos, cem situações, recorrendo a cem outras pessoas que possam trazer algo mais ao grupo.
Afinal a criança é feita de cem encontros e de cem linguagens.
Nasce assim a nossa projeção.
A nossa projeção tem vários objetivos, como favorecer o desenvolvimento da sensibilidade das crianças, o fluxo de sua crescente intenção criadora e potencializar as suas habilidades para dar forma às suas ideias e iniciativas . O faz de conta, as capacidades manipulativas, sensoriais e criativas, servem de impulso ao uso da oralidade, na comunicação das suas ideias e conceitos.
Ao longo de mês vamos elaborando a nossa documentação .
Durante cada proposta, de cada atelier, de cada exploração vamos tomando notas que clarifiquem os processos usados pelas crianças.
Não temos receitas para aplicar de forma a manter vivo o interesse das crianças nos elementos apresentados. Acreditamos que o envolvimento das crianças lhes permite a apropriação profunda dos elementos explorados, assim, conseguimos sentir/constatar/registar...

  1.  qual o aprofundamento da relação das crianças com os materiais explorados ao longo da sequência de atividades?
  2. Qual o desenvolvimento das habilidades para manipular estes materiais e criar através deles?
  3. Qual o relacionamento das crianças com a diversidade de possibilidades e propostas disponíveis nos diferentes espaços e de que forma manifestam as suas escolhas?

Não temos receitas, mas temos tempo, oportunidade e disponibilidade para observar, registar e refletir sobre cada dia.
«Coloca-te de lado por um momento e deixa o espaço para que ocorra a aprendizagem. Observa cuidadosamente o que as crianças fazem e então, se entendeste bem, talvez possas ensinar de forma diferente apartir daí...» LorisMalaguzzi