Partilhas de uma escuta vinda do« rés do chão»

Sobre as partilhas da escuta atenta das crianças nestes dias de confinamento social, chega-nos a pintura do Tiago, de 6 anos e o relato da sua mãe:
 
"Depois de pintar com aguarelas, o Tiago mostra-me a sua pintura. " é a chuva de sangue mãe!". Questionado sobre a sua chuva ela explica um pouco daquilo que retratou...

"morrem todos os dias tantas pessoas as nuvens quando chovem deitam lágrimas de sangue...é a tristeza...é por causa do vírus. ". Fico a entender que este assunto da morte e da tristeza estão muito vincados no Tiago. Sei que ele entende e sente tristeza por cada vida perdida."
assinado Madalena Santos mãe do Tiago.

Madalena que lindo o sentido de empatia do Tiago perante a vida e a morte... uma linguagem de cor e simbologia muito fortes...um céu escuro, onde a lua o ilumina, e a humanização das nuvens que choram sangue... mas embora o Tiago não tenha falado nisto, reconheço aí uma figura que lança ondas douradas...será a luta contra a causa de tantas mortes? Como a vida e a morte ganharam lugar na linguagem e na comunicação das crianças. É preciso dar significado, escutar, tranquilizar em verdade, acolhendo esta empatia e unir a ela o nosso pesar... tanta poesia nos traz a pintura do Tiago. Grata pela partilha querida Madalena.

Seguimos acolhendo a voz das crianças.
Faça -nos chegar a sua❤
#100linguagensdacrianca
#escutaativa
#reggioinspaired

O AMOR é GIGANTE nos pequenos DETALHES DETALHES INCONDICIONALMENTE CHEIOS DE AMOR E GENUÍNOS 💖👱‍♀️
pela mãe Irina Batista.

 Irina Batista, que partilha carregada de simbolismo! Uma pedra, um objeto robusto, forte, como é forte o fio de emoções que vos une! Uma pedra que embora no seu início fosse fria, se pintou e aqueceu em tons de VERMELHO-AMOR. Um detalhe simples que aproxima da mensagem maior...uma pedra especial, de uma menina especial. Só uma escuta atenta, que sustém a sua VOZ e se senta no rés do chão pode acolher o amor.
Grata pela tua partilha

O Santiago, tem 28 meses de idade e hoje foi desafiado pela sua educadora em explorar a história "O Monstro das Cores"! Em seguida tinha de pintar o SEU monstro!
Preparei COM ELE os materiais! Como alguém mais responsável e mais experiente facilitei a relação para que se confronta-se com as cores e com a imagem do monstro que a Educadora enviou! Depois dei-lhe ESPAÇO e TEMPO físico e emocional para que o processo de criação fluísse!
O Santiago foi fazendo a DESCOBERTA da linha, da cor...
A sua INTENÇÃO era deixar uma " marca permanente", SENTIR que era capaz e não estava interessado em pintar dentro das linhas fronteiras!
O RESULTADO não lhe interessava!
Quando terminou OBSERVOU e ADMIROU o traço que deixou e verbalizou:
" O Monstro está escondido mãe"!
O Santiago escondeu o monstro e revelou a complexidade do seu pensamento! Possíveis FOCOS de interesse: Aparecer/ Desaparecer, Visível/Invisível! O que é estar escondido? Escondido porque?Escondido do quê? Escondido de quem? Estar à vista e depois estar escondido é mudar de plano, de perspetiva... Pensamento concreto... pensamento abstrato...
O Santiago verbaliza que o bicho Covid-19 não o deixa ir a casa dos avós... Estamos em casa... Também nós estamos escondidos do mundo... Mudamos a nossa posição na relação com o mundo natural, físico e social, mas não deixámos de ESTAR na RELAÇÃO!
uma partilha da mãe Ana Maria Portugal

Ana Maria Portugal esse conceito de ficar escondido reflete muito da vivência do momento. Todos nós ESTAMOS escondidos. Impedidos de ficar à mostra...
Como o Santiago exterioriza essa vivência, no traço, no movimento, na sua linguagem...uma comunicação plural, feita de CEM. Da mãe uma esperança, um acolher generoso, um respeito pelo TEMPO e espaço para poder acolher. Isto é escutar. Que partilha carregada de afetos, da qual somos muito gratos. A poesia nas marcas e nas palavras de cada um, mãe e filho.
Trocámos ainda mais um pouco sobre as cem linguagens da criança...
As CEM existem, mas por vezes a nossa escuta ou o nosso olhar deixam-se iludir por um mundo cheio de nada ou um mundo que despotência a infância e a minimiza e banaliza como refere a Stela Barbieri!
 As partilhas foram chegando uma após da outra...
A próxima veio da mãe Mariana.
"Na mesa da cozinha ela deixa um papel pintado. Ela tem 11 anos e escreve numa palavra inventada, um sentimento profundo. "Desculpa mãe " seria a mensagem...a oralidade foi substituída pela arte...letras desenhadas num jogo de cor...uma forma de expressão alternativa." Assinado: mãe da Mariana
Falar com o outro é difícil, gerir a proximidade...nunca estivemos tão perto, nunca foi tão difícil o diálogo...
É preciso dar significado ao esforço do encontro que a Mariana veio trazer na sua pintura. A poesia está muitas vezes presente nos silêncios da criança.