De volta à creche!! O que Mudou??

Depois de concluir, mais uma vez  o ciclo (da sala de 1 aos 5 anos), estou de volta ao contexto de creche. Um contexto onde me sinto muito bem por sinal. Mas a educação de infância, as crianças, as famílias, a comunidade, eu... estamos todos diferentes, agora temos de voltar à casa de partida , mas com a bagagem mais carregada!!

Felizmente muito se avançou quanto ás práticas participativas, de escuta ativa, da valorização da criança, como protagonista ativo do seu percurso de desenvolvimento desde a mais tenra idade. «Apostar na educação como principal fator de desenvolvimento humano e social significa acreditar que não há fase da vida em que a educação não seja crucial. O adulto plenamente capaz para um exercício de cidadania ativa é o que se mantém desperto para preencher as suas necessidades de formação e de enriquecimento cultural. Esta atitude de permanente disponibilidade para a educação cultiva-se desde o início da vida, com uma educação rica e geradora de indivíduos equipados com ferramentas para aprender e querer aprender. (...)Educar não é uma atividade que comece aos seis anos e hoje só faz sentido planear o Ensino Básico quando este é construído sobre um trabalho integrado que tem em conta todo o período dos zero aos seis anos de idade, abarcando não só o período da Educação Pré-Escolar, mas todo o tempo desde o nascimento até ao início da escolaridade. Este período é crítico para o desenvolvimento de aprendizagens fundamentais, bem como para o desenvolvimento de atitudes e valores estruturantes para aprendizagens futuras. Por este motivo, encaramos a educação como um contínuo, do nascimento à idade adulta.» João Costa, Secretário de Estado da Educação,PREÂMBULO, das OCEPE, 2016

Durante a apresentação das novas OCEPE, o senhor secretário de Estado proferiu uma frase e tem ecoado em mim, nesta minha preparação para regressar à creche, «O cuidar e o educar, são ações indissociáveis, permanecem juntas na intencionalidade educativa».
Atualmente a creche é aceite como a base da educação e formação pessoal, que prepara todas as aquisições que surgem daí.
«A verdade é que de forma rápida se transpôs essa função meramente assistencialista e a dictomia cuidar versus educar, para se reconhecer o valor educativo destas instituições(creches)... Progressivamente estas, foram fortalecendo fundamentos, especificidades, singularidades, objetivos, tecendo a sua identidade própria, constituindo-se hoje como um dos espaços da vida das crianças, com finalidades educativas globais, no sentido da promoção das suas potencialidades, não desmesurando, contudo, a família como o primeiro e principal contexto de socialização da criança, com quem é fundamental articular a ação educativa»  Teresa Sarmento e lurdes Carvalho («Diferentes olhares sobre crianças e creche»- revista Humanidades e Inovação, 2017)
Existe hoje maior consciência da importância das vivências que a criança trás ao chegar à creche. De onde vem? Como vive a sua família? Que interesses trás? Quais as suas necessidades e intencionalidades desta sua família? É preciso estar preparado para englobar na equipa educativa este elemento chave- A Família


Muito se fala agora das finalidades educativas para a creche e nas parcerias com as famílias, como elementos importantíssimos no desenvolvimento da ação educativa e no crescimento da criança. Gabriela Portugal tem apresentado algumas ideias que podem guiar os educadores na monodocência em contexto de creche, no entando devemos olhar para estes eixos como transversais e indissociáveis, tal como o é o desenvolvimento global da criança:

  • Desenvolvimento de um sentido de segurança e autoestima
  • Desenvolvimento  da curiosidade e ímpeto exploratório
  • Desenvolvimento de competências social e comunicacional
O papel do educador também sofreu algumas alterações, existe ( e ainda bem) a imagem deste educador observador, investigador, atendo, atual. Na educação não se pode parar no tempo e muito menos no espaço.
«Nós educadores, a partir do que observamos nas crianças e de um conhecimento construído cientificamente, ensinamos e aprendemos, observamos e ecutamos, buscando a construção de um conhecimento próximo e objetivo sobre a criança, a infância, as suas linguagens e culturas» Teresa Sarmento e Lurdes Carvalho 

OBSERVAR tornou-se uma ação de extrema importância na educação e em especial na creche. Observar surge como a oportunidade para ESCUTAR a criança na sua atividade natural, o BRINCAR!Estão criadas, assim, as bases para partir para o planeamento e avaliação da ação educativa, criando a nossa documentação pedagógica« A observação e a escuta ativa da criança realizada durante as atividades e interações do dia-a-dia, e registada sob a forma narrativa e outras evidências tornam possível desenhar uma imagem do que a criança faz e como faz que pode ser partilhada com outras pessoas, nomeadamente com os pais»  Oliveira -  Formosinho, 2017

·         «A documentação pedagógica é um processo que torna o trabalho pedagógico (ou outro) visível e passível de interpretação, diálogo, confronto (argumentação) e compreensão» Segundo Carla Rinaldi, «a documentação Pedagógica é um instrumento para vários fins. Visualiza os processos de aprendizado das crianças, a busca pelo sentido das coisas e as formas de ir construindo o conhecimento. Permite a conexão entre teoria  e prática, no trabalho do dia a dia. É um meio  para o desenvolvimento do trabalho do educador» pg. 45 (Dialogos com Reggio Emilia) «É ainda um método de aferir e avaliar». A avaliação tal como a aprendizagem são caminhos partilhados  por todos os envolvidos, além das crianças e educadores.
Não existe em educação uma separação entre a teoria e a prática. Elas são indivisíveis, apenas desta forma se pode alcançar evolução, ensino/aprendizagem real.

A educação e o ser Educador são atividades englobadas e mergulhadas no que é a vida na sociedade, não podemos educar colocando-nos à parte do mundo, da comunidade, dos colegas, do grupo, das famílias. É preciso e urgente educar e cuidar preparando a criança para esse viver no mundo que a cerca e do qual faz parte. Criar nela a confiança necessária para aprender pela descoberta da vida, do Eu, do outro, do que lhe dá prazer, do que lhe suscita medo e insegurança, mas dar-lhe a confiança  necessária para avançar e descobrir, sendo o suporte e andaime, nesse percurso fantástico a que agora vou voltar e que se chama CRECHE!
Educadora Milena Branco