Balanço Final: Espaços e recursos




O ambiente educativo constitui-se como fator essencial do processo de aprendizagem. A organização deste ambiente em contextos de oportunidades educativas e carregados de intencionalidade são construídos com base nos contextos de oportunidade que partem de múltiplas fontes como os focos de interesse das crianças, as suas necessidades básicas e imediatas, as dificuldades sentidas pela sua família, promovendo assim, a descoberta da vida social e cultural da qual a criança faz parte.

A apropriação deste ambiente educativo por parte das crianças, contribui para o desenvolvimento da sua autonomia e independência na forma como explora e usa os diversos espaços e recursos com base nas interações e relações entre crianças e destas com os adultos de referência.

Chegado o final do ano letivo é tempo de realizar uma reflexão sobre o meu espaço e os recursos que nele existem.

A minha sala tem a forma de um quadrado…  em Setembro de 2017 era assim… Era um espaço novo, uma sala que se encontrava fechada e que nós fomos inaugurar. Havia, portanto, pouco material, para não dizer nenhum… apenas mobiliário básico, um espelho, catres para a sesta, dois tapetes e uma caixa de fantoches, alguns carros de «grande porte» e uma caixa de legos. Estes materiais foram partilhados pelas colegas de outras salas que nos ajudaram a construir este «ambiente» inicial, para receber o nosso grupo em Setembro. Este gesto foi muito apreciado pela minha equipa de sala, uma atitude da qual somos muito gratos.
 Pouco a pouco e com a ajuda do grupo e das famílias fomos acrescentando elementos que fizeram deste espaço o «nosso» espaço! Construímos um ambiente que nos refletia, que espelhava aquelas crianças e aquela equipa, um ambiente que cresce a cada dia, com a contribuição de todos nós.


Com as nossas famílias compramos uma cozinha de madeira e trouxeram panelas e utensílios de cozinha lá de casa. Tudo elementos reais. Aqui podemos explorar os papeis sociais, culturais e familiares.
Na nossa cozinha podemos explorar diferentes recursos além das panelas e outros utensílios domésticos, as flores de cheiro e a plasticina saltam muitas vezes para dentro das panelas!
A área da cozinha une-se com a casinha das bonecas, aqui nasceu o nosso espaço de jogo simbólico entre a cozinha, as bonecas e a nossa biblioteca…
De casa vieram as bonecas, os biberons, as mantas, fraldas de recém nascido (reais), as chuchas, os babetes e a cama foi improvisada com uma caixa de fruta de madeira, que pedimos à equipa de cozinha da nossa escola. Também aqui usamos apenas elementos reais que aproximam a criança da realidade sem a infantilizar ou colorir em estereótipos.

Na «casinha dos livros», nome que surgiu para a área da biblioteca (creio que o nome surgiu por estar muito próxima da «cozinha» e das bonecas, nesta imagem vemos a cozinha inicial que a sala de berçário 1 partilhou connosco depois de ter sido oferecida por uma das suas famílias.
Depois desta surgiu então a ideia de adquirir uma, mais resistente, em madeira.(Essa é a que temos atualmente.) Aqui temos vários tipos de livros que mudamos a cada 15 dias de forma a manter sempre a curiosidade face ao que lá existe. Contamos para isso com a parceria com a Biblioteca Municipal que nos trás cestas de livros com muita frequência.
 
Estas cestas podem ser temáticas ou mais globais, dependendo dos focos de interesse do grupo a cada momento.
As nossas colegas da Biblioteca vêm-nos visitar e nessas suas visitas trazem as cestas que lhes pedimos ou as que nos querem sugerir… aqui ficam 2 exemplos, as cestas sobre os coelhos e as tartarugas e a cesta do inverno. As nossas famílias contribuem para enriquecer a casinha dos livros, enviando elementos naturais, peluches e novos fantoches, ás vezes até alimentos… na casinha dos livros, as histórias saltam mesmo cá para fora! Tornam-se reais, palpáveis e mais fáceis de conhecer, porque podemos agir e interagir com todos estes elementos.
Na nossa casinha dos livros há outros elementos que nos permitem «ler», além dos livros temos folhetos de supermercado e outros elaborados por nós em situações e projetos específicos, como o projeto «Viagem ao país dos Pais» onde cada família construiu o seu roteiro especial de atividades entre pais e filhos!
 
Também temos cartões com capas das histórias que mais gostamos e que podemos escolher voltar a ouvir e explorar!
Na área da casinha dos livros temos um espaço para expor figuras, fotografias, elementos que espelham as nossas explorações, as nossas vivências pessoais.
Nasceu assim o nosso registo do vivido. Estes suportes visuais também ajudam o grupo a «ler» a informação sem necessitar do apoio do adulto, pois todo o material afixado é trazido pelas crianças de casa, ou, organizado em projetos individuais, apoiados no adulto (educadora ou auxiliar). Assim quem trouxe sabe «falar» sobre essa vivência aos outros. Em pouco tempo todos sabem «falar» sobre cada uma das vivências expostas.
 
Também temos na nossa sala um espaço pensado para acolher construções com peças de lego e recentemente foram adquiridos blocos de madeira grande de formato, tamanhos e espessuras diversas, que permitem construções mais elaboradas. Este espaço favorece bastante as parcerias e as construções cooperadas. Aqui o grupo gosta de usar também os seus camiões e carrinhos de mão para transportar as suas peças.
 
Neste espaço de construções o grupo pode também explorar elementos recicláveis, como as caixas de cartão, os tubos e rolos de cartão, realizando algumas produções 3D.
Outro espaço que usamos muito é a mesa, ela é o elemento central da nossa sala, ou pelo menos um deles (o outro é mesmo o chão, e dele falaremos mais à frente). 
Na mesa fazemos muitas explorações de jogos, construções de pequena dimensão, especialmente com blocos de madeira e também nos servimos dela nas nossas explorações artísticas. Defendemos o conhecimento do mundo e da cultura na sua forma real e próxima. Tudo no que não podemos tocar e sentir, não podemos usar para construir significados. As folhas, as plantas e os animais, não os podemos conhecer apenas pelas ilustrações dos livros (ainda que sejam livros com ilustrações cuidadas e magníficas…) o real só pode ser conhecido no real. A cultura só pode ser apropriada em si mesma, assim trazemos muitas vezes para a mesa elementos naturais que podemos observar e documentar.
 

O chão da nossa sala é assim outro elemento central da vida e das descobertas e explorações do nosso grupo. Ele enche-se muitas vezes de vida, levamos e recebemos a visita de alguns animais na nossa sala.

Também usamos o chão como espaço polivalente e nele recebemos as aulas de dança e música, ou as nossas atividades de ginástica!
 
Noutras vezes a nossa criatividade precisa de um espaço maior para se fazer Ouvir e o chão é sempre esse recurso fantástico! O chão é muitas vezes a nossa sala de visitas e nele recebemos os amigos que nos vêm visitar e partilhar novos conhecimentos. Nestes dias a nossa sala despe-se de tudo o que pode ocupar espaço e dos prender os movimentos. Para onde vão as nossas caixas? Para o corredor e Wc! Depois das atividades tudo volta ao normal.
A nossa sala expande-se muitas vezes até ao espaço do recreio. Aí podemos fazer ginástica, andar nos triciclos, correr, explorar os aparelhos que lá existem…levamos os nossos brinquedos e fazemos verdadeiros ateliers do brincar ao ar livre!
 Ás vezes levamos mesmo novas propostas para este espaço exterior e promovemos novas vivências, usando elementos naturais, em propostas mais ligadas ás ciências…
 Em dias solarengos gostamos de colocar à disposição mesas com tinas de água e terra, dispondo de diversos elementos naturais, como pedras, folhas, galhos, cascas e sementes de árvore, frutos de casca (nozes, avelãs e castanhas), pinhas, conchas… Na tina de terra disponibilizamos pequenas pás, formas de plástico, regadores, peneiras, copos com diversas capacidades e formas…

 

Na tina de terra disponibilizamos pequenas pás, formas de plástico, regadores, peneiras, copos com diversas capacidades e formas…
No nosso Recreio também temos uma enorme caixa de areia, onde gostamos de disponibilizar além do material de «praia», as nossas panelas que vieram lá de casa!
Falta apenas falar dos nossos recursos mais utilizados e que são sem sombra de dúvida os maiores focos de interesse do grupo!
Os recursos naturais, a terra, as água, as flores, as ervas do campo, as conchas do mar...
 A mesa de luz, o retroprojetor, a bola de luzes e as nossas lanternas... 
 A luz do sol e a nossa interação com as sombras e as cores... 

 Elementos alimentares que usamos no atelier de culinária... e os utensílios reais, bem como pequenos electrodomésticos (balança, batedeira...)
 A nossa cesta das surpresas, os nossos livros, fantoches...
As nossas maracas e outros instrumentos musicais...
 O barro, a plasticina e outras massas de modelar...
Nada de grandes recursos, poucos brinquedos «prontos a usar», algum «lixo» doméstico, muitos elementos reais e tempo, espaço e oportunidade para os poder explorar ao seu ritmo!