A forma como Bruner, Vygotsky, e Garner veem a criança é inspiradora. Ao do ano letivo foram muitas vezes inspirações para mim e não podia deixar de lhes fazer, também eu uma referência dentro da reflexão sobre a organização do meu grupo.
A criança aprende pela sua ação sobre os objetos, defende Bruner, e à medida que vai crescendo, o sistema educativo vai castrando essa sua necessidade de ação. É urgente que, principalmente na creche, lhe possa ser dado espaço e tempo para agir sobre tudo o que a rodeia. O papel do grupo nesta descoberta é o de apoiar, o de desconstruir e reconstruir nas descobertas de cada um, as descobertas de todos.
Segundo Bruner a aprendizagem é valorizada pela ação que lhe dá significado, sendo uma descoberta prazeirosa, ela será mais duradora, passível de aplicar na vida real.
Ao longo do ano procurei focar-me nessa capacidade de ler os interesses de cada um para promover novas descobertas ao grupo, inspirada também no envolvimento «andaimado» dos pares, dos adultos e das famílias nessa observação, projeção e amplificação dos saberes e das aprendizagens.
Vygostky defende o «andaime», o companheirismo de quem se apoia na descoberta do outro e se encanta com ela em parcerias.
Apoiado na ação do outro, a criança sente-se capacitada para fazer, e chegar mais além do que faria se assim não fosse. Realça a possibilidade ilimitada em qualquer idade, do saber e da cultura na defesa de um currículo em espiral, onde nada é demasiado «fora» da capacidade de exploração e de descoberta da criança, mesmo no bébé.
Não existem temas, ou focos de interesse que não possam ser explorados na creche, pois a criança conta com o seu grupo de pares e com a sua comunidade escolar (que envolve outros pares de idade mais avançada) para amplificar as suas descobertas, conta com os outros para se descobrir a si e ao mundo.
Não senti em nenhuma altura do ano que «aquele» interesse da criança seria uma temática forte demais, ou que envolvesse pormenores complicados... se o foco era esse, o ambiente e os recursos seriam apresentados para que a descoberta acontecesse. Acho que aquilo que me ajudou a evitar as frustrações foi apenas não criar expectativas. Eu estava para o grupo como elemento de recurso, não desejava ensinar, mas promover hipóteses a cada um e a todos para descobri, para «ler» as situações ou os recursos à sua maneira. Promovendo sempre espaços de encontro e de partilha, para poderem partilhar o que cada um fez, descobriu e sentiu em determinada situação (circuitos de comunicação).
Mas é Garner quem nos impele a pensar na força e no poder da individualidade para a existência de um coletivo empragnado de cultura e de significação. Fala-nos de inteligência como a capacidade para resolver problemas ou situações, efectuar produções e cultura em diferentes cenários usando as suas capacidades únicas na construção cooperada do processo de humanização.
O grupo deve conter elementos capacitados de diferentes inteligências, é assim que olho os grupos heterogéneos que potencializam ao máximo as inteligências de cada criança num enriquecimento partilhado de formação pessoal, social e cultural.
Tive exatamente esta experiência com o meu grupo, cada um tinha um aptidão específica, tinha eu de procurar formas de as juntar para bem das descobertas e resolução de problemas a cada dia.
Tive artistas plásticos, especialistas em rabiscos, pinturas, modelagens e testes diversos no uso combinado de diversos recursos plásticos.
Tive faladores natos, daqueles que contam tudo!! As vivências, as aventuras, as histórias «lidas» e inventadas a cada página de livro.
Tive construtores e arquitectos de grandiosas esculturas a 3D, projetando as suas obras, sem desistir a cada dificuldade, andaimando-se nos seus parceiros de obra.
Tive bailarinos e coreógrafos audazes, que ao som das primeiras notas e ritmos musicais criavam narrativas movimentadas carregadas de sentimentos, movimentos, intencionalidade.
Tive ajudantes fantásticos, sempre prontos a ajudar quem precisa, a apoiar nas dificuldades e a festejar as vitórias de cada um.
Tive defensores da natureza, que a exploram, que a defendem, que a elegem como recursos principal das suas descobertas, ações e produções.
Um grupo tão diferente onde cada um teve um papel único e fundamental, a riqueza da heterogeneidade, da diferença perante a unicidade da comunidade. Mesmo na creche estas diferenças são importantes, mas eu diria mesmo vitais para o crescimento harmonioso de cada um e do todo!