Chegou mais um ano letivo e com ele, os exploradores vão encontrar um novo espaço, com uma organização que segue a linha do espaço da sala anterior, que propõem ampliar as experiências efectuados no ano passado, centrando-se na segurança e na escuta ativa da criança e das suas múltiplas linguagens.
Um espaço que vai sendo construído e organizado em parceria com a(s) criança(s), a equipa de sala, as famílias e a comunidade escolar, Um processo sem pressa, onde se pretende respeitar a pedagogia da lentidão, proposta pelo projeto educativo de Reggio Emília.
Assim vamos iniciar a visita guiada pelo espaço físico e pelos recursos que nele existem e outros que nele foram nascendo por necessidade de resposta aqueles que o habitam...
Quando olhei este espaço pela primeira vez, tentei construir uma organização que acompanhasse o crescimento dos exploradores em toda a sua globalidade. Sei que estão mais desenvoltos ao nível físico-motor, o espaço deve contemplar oportunidades para executar movimentos largos em pequenos grupos ou de forma individualizada. Devo incluir nele objetos que também promovam a exploração de movimentos mais precisos, onde a destreza ocular motora possa desenvolver-se a par com a curiosidade e o ímpeto exploratório.
Este novo espaço deve contemplar oportunidades para promover encontros e interações sociais, entre os novos exploradores e o restante grupo e canais de comunicação entre pares, adultos, espaços e recursos existentes na sala. Dentro destes encontros era importante pensar em situações, espaços e recursos que promovam e desenvolvam as competências cognitivas, A nova sala tem o objetivo de ser um espaço que permita a cada criança fazer/explorar/usar sem limitações. Um espaço previsto para crescer com a criança, alargando o nível de complexidade, numa prespetiva desafiadora, sensorial, emotiva e segura.
Assim nascem os primeiros espaços lúdicos da sala nova. Espaços que possam responder aos interesses da criança, sempre em movimento, de forma a promover as escolhas ajudando-a a ganhar a noção de controlo, de autonomia e confiança. Libertando-a da necessidade constante da presença e decisão do adulto sobre o desenvolvimento da sua ação e escolha. Este é o novo espaço de jogo de faz de conta. Neste momento é uma casinha, mas em breve será aquilo que eles fizerem deste espaço. Houve, claro algumas preocupações na sua construção, preocupações estéticas, foram usamos elementos de cores neutras, como o tapete, as madeiras do mobiliário... a altura desse mobiliário a ser usado pela criança, está à sua altura, promovendo a autonomia e a escolha livre no uso dos recursos que aí existem. Um espaço intimista onde a criança pode explorar jogos e papeis sociais e familiares com os quais se identifica. Os recursos são essencialmente reais, roupas de recém-nascido, fraldas destacáveis, chucha e biberon, fraldas de pano, banheira pequena, louças de cozinha (essencialmente de madeira, metal e plástico), carrinhos de compras...
Este é o espaço de construções, ocupa mais de metade do espaço físico da sala e pode fundir-se fácilmente com outras áreas. As preocupações face aos moveis são as mesmas, tudo à altura da criança, guardado em caixas transparentes para uma leitura fácil dos seus utilizadores, cores neutras com recursos que liguem a criança aos seus sentidos, ás suas emoções, à natureza e à reciclagem e reutilização dos recursos.
Este espaço pode ser apoiado por uma mesa onde as crianças podem alargar as suas construções...
Como temos um espelho na parede aproveitei para colocar aí a nossa mesa de luz. Assim a criança pode explorar os diversos elementos num ambiente escurecido ou com luz, observando-se no espelho. Os recursos a usar na mesa encontram-se no móvel da área de construções... Esta mesa serve também de apoio à biblioteca (um espaço ainda em construção).
Segue-se o atelier de expressões, onde as crianças podem explorar diversos recursos , como vários tipos de papel, jornal, tintas, colas, tecidos, elementos naturais e reciclados, esponjas, massas e pastas de moldar, barro, estiletes de modelagem (de plástico), lápis de cera, marcadores, barras de grafite... Tudo arrumado no móvel de madeira e em caixas transparentes promovendo as escolhas e decisões.
Também podem explorar o quadro negro e o plano vertical de pintura.
Voltamos a apostar nos elementos de madeira, metais e recicláveis, para usar como suporte de tintas, lápis, pincéis e outros recursos.
A investigação e curiosidade são alimentadas também pelos recursos disponíveis e na sala nova, temos uma mesa sensorial, que a cada dia nos surpreende com alguns elementos «escondidos» que se podem explorar ali ou noutro espaço. Aqui é o espaço dedicado ás experiências naturais, daquelas que envolvem os sentidos e os sentires da criança...
Aqui não há recursos proibidos, as caixas podem esconder água, terra, galhos e folhas, bem como peças, cápsulas de café... a investigação será alimentada e amplificada aos interesses das crianças que aí desejam explorar o mundo.
Promovemos o encontro e a comunicação, tínhamos de ter uma área social. Aqui temos, por agora uma manta de pic-nic e alguns pedaços de madeira que nos conectam com a natureza e a vida. Este espaço encontra-se junto das grandes janelas da sala. As que nos fazem espreitar a vida lá fora e desejar traze-la para dentro.
Porque a natureza faz parte dos interesses do grupo, manifestados no ano anterior (entre outros), cedo voltámos a enfeitar as nossas janelas com um jardim muito especial...Não podia ser de outra forma. É preciso projetar um espaço dentro e fora da sala (em breve contarei como correu o nosso projeto de requalificação do espaço exterior). Espaços que sirvam a Criança, que a Escutem verdadeiramente, espaços onde o belo possa atrair o belo e o cuidado possa promover o cuidar (da vida, de eu, do outro, da natureza, da arte, do mundo...).
Um espaço onde a Escuta se ligue à sensibilidade para se relacionar como outro...
Um espaço que promova a Escuta como um movimento sensorial, onde não se usa apenas os ouvidos, mas o corpo todo...
Um espaço de Escuta Ativa, sem pressa, mas recheada de movimento...
Um espaço de Escuta que não trás respostas prontas a usar, mas perguntas que provoquem o pensar ...
Um espaço onde o Som não seja ruído, onde exista lugar para os silêncios que se tornam foco e vivência significativa na luz, nas sombras e nas cores...
Se É perfeito? Não será certamente , mas sei que é um espaço de Vida, de Escutar, um espaço Habitado por aqueles que o vão transformar...
Bom ano letivo!
Ed. Milena