A nossa instalação pendurada

Quando realizei o levantamento dos interesses do grupo escrevi nos meus apontamento: « tubos de cartão, fios de trapilho, tecidos e molas, coisas para pendurar».
Este apontamento foi fazendo eco dentro de mim e na ação deles, era normal, ver algumas crianças a explorar estes elementos de forma combinada e tentando unindo os elementos usando fios de trapilho, as molas nas cortinas da sala... investiguei e tomando por inspiração a formação que havia terminado á pouco em Lisboa, com o projeto Createctura, resolvi criar uma instalação que rapidamente ficou conhecida pela instalação dos «pendurados»!
Este tipo de instalações pretende unir os interesses de várias crianças e na sua organização foi isso que pretendi fazer. Assim numa das partes da instalação coloquei um ponto de exploração do traço usando rolo de papel de rolo, um formato pequeno que provoca a curiosidade pelos materiais «riscadores»...
Além disso usei tudo de plástico transparentes, e tampas de plástico colorido. Este material sugere combinações, experiências de encher/esvaziar, e muitas outras que eles inventaram...
Pendurei rolos de cartão de cor e tamanhos diferentes, usando fios de trapilho colorido, pendurei no fio que temos na sala e dele fiz ligações à árvore, aos cavaletes, à porta... tudo servia para pendurar tubos. No chão deixei a pista para um convite à criação das suas próprias estruturas penduradas ou não... deixei uma caixa com tubos e diversos fios de trapilho com comprimentos diferentes.

E porque as molas e os tecidos eram fontes de interesse, coloquei um fio de trapilho vazio, com um copo cheio de molas de madeira  e muito papel celofane ( que aqui substituiria o tecido)...

Que linguagens estamos nós aqui a explorar??
«O currículo da educação infantil deve ocorrer dentro das diversas linguagens. Porquê? Porque as crianças até aos 5 anos devem aprofundar essas várias linguagens e não apenas duas como é comum nas escolas.(...). As artes entram como um factor preponderante num bom currículo para a infância. é trazer as múltiplas linguagens para o momento inaugural da criança e não restringir com apenas duas (a das letras e a da matemática). Com isso, a criança precisa de espaço para viver experiências reais e não de ouvir o professor e fazer aquilo que ele lhe indica. É o momento em que a criança se torna protagonista, onde se conecta com o seu processo de aprendizagem.»Josiane Del Corso- diretora da Escola Atelier Carambola- Brasil

 
Durante a instalação não dei orientações, nem ideias, nem expliquei as minhas ideias iniciais, deixei fluir a exploração, assisti ás explorações individuais e em pequenos grupos, vi relação, raciocínio, resolução de problema, a criatividade, perseverança, cooperação, partilha e conceitos democráticos e sociais.
«A arte faz a comunicação onde as palavras não existem.
o desenvolvimento social, emocional e cultural das cianças se transforma com o ímpeto das experiências artísticas. Mocha, artigo do Museum of children´s Arte- E.U.A.

 
Com estas provocações sinto que envolvo o grupo em experiências cognitivas,  estéticas, onde cada um tem liberdade de criar as suas próprias interpretações, partindo dos mesmos recursos, os resultados são tão diferentes...
 
Com estas instalações observo que:

  • As crianças aprendem pela ação direta e livre, na manipulação e transformação dos recurso disponibilizados
  • As crianças valorizam os ambientes esteticamente cuidados, valorizando os espaços e habitando neles, apropriando-se deles, cuidando deles como Seus.
  • Este tipo de instalações favorecem a consciência do espaço físico e do espaço que cada objeto ocupa nele.
  • Estas instalações ajudam as criança a resolver os problemas que vão surgindo de forma criativa e cooperada.
  • Estas instalações levam a criança a procurar o som, o traço, a linha, a tridimencionalidade nos e dos objetos, os equilíbrios, a força, as texturas, a cor, as contagens...
  • Valorizar as suas produções e as dos outros, cuidando delas, preservando-as
  • Estes momentos permitem à criança que conheça as suas capacidades, limitações pessoais, sociais e criativas.



E porque as crianças são seres soltos das suas certezas, elas tornam-se seres criativos por natureza...
«porque elas não estão excessivamente vinculadas ás suas próprias ideias, elas constroem e reconstroem, inventam e reinventam constantemente. Elas estão aptas a explorar, fazer descobertas, mudar os seus pontos de vista e apaixonar-se por formas e significados que se transformam.» Lella Gandini, As cem linguagens da criança
 Em breve iremos voltar a colocar na sala a instalação dos «pendurados», promovendo novas oportunidades para explorar e investigar mais profundamente estes objetos e o seu uso combinado. Será que haverá surpresas?
Eu não sei, mas vamos descobrir!
Um abraço
Milena Branco